A Affront é uma banda que mescla o Thrash e o Death Metal, formada no Rio de Janeiro em 2016 por M.Mictian (baixista e fundador da banda de black metal Unearthly e que flerta em algumas canções com músicas regionais brasileiras, tivemos um longo e proveitoso bate papo com M.Mictian e o resultado você pode conferir a seguir.
Metal no Papel: Eu não poderia deixar de perguntar, você foi baixista e membro fundador de uma das mais emblemáticas bandas de Black Metal deste país, o Unearthly, porque a banda encerrou as atividades num momento, que ao meu ver, estava sendo muito produtivo para a mesma?
M.Mictian: Eu fundei o Unearthly e estava a 18 anos fazendo Black Metal. Em 2014 quando lançamos o último álbum da banda eu já tinha um ideia fixa na minha cabeça e comecei a planejar essa mudança, eu queria poder escrever e usar temas diferentes do Black Metal e trilhar outros caminhos, entende? E também algumas amizades já estavam esgotadas eu juntei tudo isso e dei um basta na banda e prossegui com a nova jornada, a Affront
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MNP: A aceitação da Affront foi quase imediata, já que a banda aposta firme de Thrash/Death Metal que é muito bem aceito pelos brasileiros, a intenção sempre foi trilhar esse caminho ou a sonoridade surgiu da junção dos membros da banda em estúdio?
M.Mictian: A ideia é fazer Metal com influências Thrash Metal o qual somos fãs, mas deixamos as coisas acontecerem naturalmente não ficamos procurando nenhuma fórmula de sucesso fizemos canções que antes de qualquer coisa nos agradecem e assim fizemos.
MNP: Chama a atenção o acréscimo de estruturas de músicas regionais brasileiras, isso se dá propositalmente ou vem das influências individuais de cada um?
M.Mictian: Eu já colocava essas influências no Unearthly em doses menores, sou filho de uma Nordestina arretada (risos) desde pequeno ouço Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Zé Ramalho e por aí vai; gosto desse tipo de música regional, e ele está presente na minha vida, o que eu fiz foi deixar fluir, não quis podar nada. Diferente do Black Metal no Thrash essas misturas se tornam um pouco mais fáceis e naturais.
MNP: Então podemos dizer que a música “Mestre do Barro” é a representação da sua vivência com essa realidade com a música e cultura nordestina, já que ela retrata de uma forma muito particular a vida de Mestre Vitalino, que é um dos maiores artistas populares deste país?
M.Mictian: Pode se dizer que sim, eu sempre tive contato com as tradições Nordestinas seja na culinária como também na Cultura e particularmente, sou fascinado por essa riqueza que temos em nosso país, cresci apreciando junto a minha família mesmo estando longe territorialmente, da Região Nordestina.
A música Mestre do Barro foi uma homenagem que fiz a minha paixão por nossas raízes
MNP: O primeiro lançamento foi “Angry Voices” de 2016, que conta com produção sua e com participação especial de Pompeu do Korzus, conte-nos como foram a composição e gravação deste debut álbum?
M.Mictian: Quando fundei o Affront em abril de 2016 eu tinha toda ideia na minha cabeça praticamente pronta todas as músicas e parte lírica, nome da banda e também fiz o logotipo ou seja um pacote praticamente pronto, assim convidei alguns músicos dentre eles o R.Rassan (guitarrista) que me ajudou a produzir e acabou também assinando algumas composições comigo; A gravação fizemos em pequeno estúdio no Rio de Janeiro próximo a residência do R.Rassan e foi bem rápido porque tínhamos um cronograma bem definido, as coisas acontecerem rápido.
MNP: A banda apostou na divulgação através de vídeo clipes, sendo que neste primeiro álbum foram nada menos que três. Porque vocês investiram pesado neste formato?
M.Mictian: Eu sou fã de filmes e de vídeos clipes, entendo também que é mais uma forma de divulgação e apresentação do seu trabalho, um bom vídeo clipe mostra as pessoas eu diria o lado "materializado" da música é a forma talvez de se mostrar a música traduzida em imagem é mais interessante mostrar isso.
MNP: O segundo trabalho “World In Collapse” saiu em 2019 e foi lançado também na Europa (NR: O primeiro Angry Voices” também foi lançado por lá), qual tem sido a aceitação dos trabalhos da Affront no velho continente?
M.Mictian: Verdade os dois álbuns foram lançados na Europa e Japão, tem sido um trabalho bem feito pela Polymorphe Recs. da França, por ser um selo médio, eles precisam trabalhar bastante com divulgação para abrir portas, conseguimos sair com entrevistas em vários sites e revistas impressa como a Legacy Mag. Da Alemanha, as coisas estão caminhando bem ano que vem teremos notícias mais concretas.
MNP: “World in Collapse” traz o Affront mais maduro e coeso, mesmo que a banda tenha sido mais contundente nas novas composições, isso se deu pela química e pela vivência entre vocês? Além disso o álbum conta em seu material de divulgação com um interessantíssimo vídeo clipe para a música "Forgotten By God", fale-nos sobre ele?
M.Mictian: "World in Collapse" é mais direto, mais Thrash Metal foi legal que foram bem naturais as composições, elas foram fluindo facilmente e isso me deixou bem contente.
"Forgotten by God" tem o clipe de desenho animado algumas bandas já fizeram esse modelo e eu me divertia os assistindo, e surgiu a oportunidade de também fazermos o nosso quando um conhecido de São Paulo ofereceu seu trabalho para tal eu não pensei duas vezes, mas precisávamos de roteiro e eu acabei escrevendo junto com o produtor, deu bastante trabalho, mas o resultado final ficou muito interessante assistam.
MNP: Com esse lançamento a banda veio tocar em São Paulo, primeiramente no projeto Música Extrema do Sesc Belenzinho e partiu para apresentações pelo interior do estado, conte-nos como foi essa experiência?
M.Mictian: Na verdade foi ao contrário, fizemos algumas cidades do interior de São Paulo e foram sete shows e apresentações incríveis fizemos muitos amigos nesses eventos e uma divulgação plena do nosso trabalho, depois fizemos o projeto de música Extrema do Sesc Belenzinho; O Sesc possibilita ao artista uma apresentação de forma mais profissional diante de suas estruturas e suporte que infelizmente nem sempre temos a nossa disposição essa estrutura, mas de uma forma geral foi muito gratificante essa parte da promoção do álbum.
MNP: Agora estamos vivendo uma realidade muito adversa em nosso dia a dia, como você vê esta questão do isolamento social, da provável queda da economia e no que isso afeta os trabalhos Affront agora e em um futuro próximo?
M.Mictian: Estamos com "World in Collapse" isso é fato, o isolamento social comprovadamente é o único remédio no momento e apesar de sabermos que a economia vai afundar é o que temos que fazer, nós perdemos aproximadamente seis ou sete shows nesse período, mas vivos podemos reagendar os shows; Apesar de existirem alguns lunáticos negacionistas, gente com caráter muito duvidoso que queira amenizar a gravidade dos fatos.
MNP: Você vê alguma mudança deste estado caótico de hoje, onde ao mesmo tempo não existem planos para o combate a convid-19, deixando que o sistema de saúde do país vá “dando seu jeito”, ao mesmo tempo em que não existe preocupação em se ajustar as regras da economia para que também não entre em colapso?
M.Mictian: A grande verdade é que o atual governo nunca mostrou ter algum projeto para o país, usou de fake news, e populismo para conseguir se eleger, uma boa parte da sociedade que se sentiu representada pelo discurso de ódio e divisão de classes abraçou a ideia desse governo, hoje comprovadamente estamos à deriva, o mundo está combatendo a pandemia e nosso governo diz que é um "gripezinha"; Eles focam na economia mesmo que com isso o povo morra, preferem tentar salvar o status do governo do que investir e salvar vidas.
MNP: Sem querer discordar da sua colocação, eu particularmente, não enxergo nada que seja feito para o povo ou para mudar a realidade de inúmeras famílias, que literalmente comem o pão que o diabo amassou. Sendo assim, você vê os “esforços e medidas” para que a nossa economia se aqueça e com isso gere empregos, renda e riqueza para o país e consequentemente mude a realidade do Brasil como um todo?
M.Mictian: Quando digo que o governo foca na economia é na verdade na tentativa de salvar os empresários e a burguesia porque para os mais pobres e miseráveis em momento algum foi mostrado algum projeto isso o que eu quis dizer; Geração de empregos, aumento no ganho real dos salários dos trabalhadores das classes desfavorecidas, educação, saúde para estas classes não temos nada a amostra.
MNP: diariamente vemos notícias sobre desencontros de informações, coisas que são ditas e desditas, e até mesmo negadas sumariamente, como você vê esta desinformação toda, num momento tão sensível?
M.Mictian: A desinformação é uma prática muito usada em governos reacionários, conservadores "se o povo não sabe o que acontece, não questiona", é isso o que eles estão fazendo, vivemos uma era obscura temos que ficarmos atentos, nunca tivemos governos maravilhosos mas este atual é uma praga que precisamos combater a qualquer preço.
MNP: E sobre a dança das cadeiras nos ministérios, os convocados a administrar o país são trocados constante e muitas vezes pelos motivos mais fúteis, estariam buscando acertar ou errando por algum motivo?
M.Mictian: Elegeram um presidente sem nenhum preparo e ele próprio reconhece isso, a dança das cadeiras é justamente por falta de conhecimento, o presidente é um cara sem cultura, sem informação, o típico ditador burro, alienado, lunático; Não há consenso no que ele fala, não há consenso entre ele e os que ele escolhe, é tudo uma bagunça parece um bando de pré-adolescente, um governo que se elege por Fake News, e tenta se sustentar nela, não vai ter base pra governar.
MNP: Alem de que, é notória a influências de pessoas que não são efetivamente do governo, mas que atuam diretamente nos bastidores, chegando mesmo a criar embaraços diplomáticos, isso demonstra fraqueza de comando?
M.Mictian: Além dos filhos igualmente lunáticos como o pai, ainda tem o guru da família, um astrólogo formado pela internet (risos) um senhor idoso mau caráter, racista, homofóbico, com discurso de ódio, combinações perfeitas para o fracasso e o caos, e verdadeiramente estamos a passos largos indo nessa direção.
MNP: Muito obrigado pela entrevista, agora o espaço é seu para suas considerações finais e par deixar uma mensagem aos nossos leitores.
M.Mictian: Parabéns pelo seu apoio ao nosso Underground, grato pelo espaço, força ao Metal Nacional, espero encontrar todos na estrada... Metal Nacional Antifascismo!
Formação:
M.Mictian - baixo e vocals
Marcel Barros – guitarra
R.Lobato - bateria
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