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A redenção do Maranhão Open Air: Dez anos depois, o festival se consagra com shows históricos



O Estado do Maranhão entra para rota de grandes festivais de música pesada


Texto: Carolyne Ferreira

Fotos: Rogério Sousa / Rafael Galbes / Carolyne Ferreira


Nos dias 12 e 13 de novembro, a cidade de São Luís (MA) recebeu artistas

nacionais e internacionais para um evento histórico que foi marcado por polêmicas, mas

que demonstrou resistência do início ao fim para entregar o melhor festival possível

para seu público. Com um line-up de 24 bandas, houve 7 cancelamentos, sendo 4 deles

de responsabilidade da produção, que assumiu o erro e se desculpou com as bandas e o

público pelo ocorrido.


Desde o início a produção enfrentava problemas com a desconfiança gerada por

conta da primeira edição do festival, o que dificultou na adesão do público ao festival,

na falta de apoio da mídia e de patrocinadores. Mas, ainda assim, com tantas

adversidades, os organizadores provaram que é possível fazer festivais desse porte do

Maranhão. E sim, tudo poderia ser ainda melhor se as iniciativas públicas e privadas

apoiassem um festival que tem potencial se tornar um grande festival para o estado do

Maranhão, assim como para nossos vizinhos do norte e nordeste.


No dia 12 de novembro se apresentaram as bandas Cérebro de Galinha,

Alchimist, Mutilator, Basttardz, Crypta, Desalmado, Doyle, Edu Falaschi e Mayhem.


As bandas locais Alchimist e Basttardz confirmaram o potencial das bandas

maranhenses com excelentes shows. Para quem não conhece essas bandas recomendo

que deem atenção: a primeira traz elemento do heavy metal, que vai do progressivo ao

thrash; a segunda, destaca-se por apresentar um hardcore direto com críticas

contundentes a realidade atual.


O show da banda mineira de death/thrash metal Mutilator foi recebido com

muito entusiasmo pelos fãs, que puderam assistir um excelente show da banda após um

período de hiato. Com o retorno em 2018, a banda tem demonstrado sua força nos

palcos, especialmente com o lançamento do álbum ao vivo Live at Lemmy Bar (2021),

que reúne os principais sucessos da banda.


Doyle, guitarrista da lendária banda Misfits, apresentou-se revisitando clássicos

da banda que o projetou assim como músicas do seu projeto solo, como o álbum Doyle

II: As We Die (2017), mantendo suas influências que vão do punk, hardcore e heavy

metal.


A banda Crypta trouxe para o festival um show insano. O quarteto foi recebido

por fãs no aeroporto e no show tinha um público ansioso ver mais uma vez a banda no

palco. Afinal, era a segunda vez a banda se apresentava neste ano no estado, elas

estiveram ao lado de bandas como Krisiun no Bréa Festival, organizado pelo mesmo

produtor do MOA, em abril. O ábum Echoes Of The Soul (2021) bastante elogiado, traz

músicas que refletem o momento de transição pessoal e profissional da bandadentro de

um contexto pandêmico, momento que se deu a formação da Crypta. O mosh foi

apoteótico, homens e mulheres juntos bangueando, demonstrando uma mudança na

cena do metal, e apontando para qual direção devemos seguir: um espaço para todos.


Um ponto interessante a ser levantado é o caso da banda Desalmado. Uma banda

com quase 3 décadas de estrada, com álbuns excelentes, que já fez turnê fora do país,

mas que estava se apresentando pela primeira vez no estado. Com muitos fãs abordando

a banda, comprando merch, percebe-se a importância de fomentar shows e festivais que

possibilite que os fãs do norte e nordeste tenham a oportunidade de assistir aos shows de

suas bandas preferidas com mais regularidade. A banda trouxe um setlist que perpassa

por sua trajetória, mas também apresenta seu mais recente e excelente álbum Mass

Mental Devolution (2021).


Edu Falaschi apresentou seu tão aclamado show da turnê do álbum Vera Cruz

(2021), que contou também com músicas de sua trajetória na banda Angra e agora em

carreira solo, presenteando os fãs com um show completo que unia o saudosismo, mas

também os novos caminhos. Músicas como Nova Era, Acid Rain, Rebirth, Fire with

Fire, Frol de la mar e tantas outras completaram essa fusão mágica.


O show do Mayhem foi sem dúvida o mais aguardado da noite, com um setlist

que surpreendeu todos os fãs de black metal. Como é de se esperar o show da banda

norueguesa apresenta um verdadeiro concerto de black metal dividido em três atos, que

trouxe 15 músicas que marcam a trajetória da banda, desde o emblemático e histórico

De Mysteriis Dom Sathanas (1994) ao mais recente Daemon (2019).


No segundo dia do festival, 13 de novembro, se apresentaram as bandas

Tanatron, Rebaelliun, Scrok, Shaman, Dorsal Atlântica, Garotos Podres, Richie

Ramone, Gangrena Gasosa e a revelação sueca Ambush.


A banda maranhense Tanatron, formada em 1996, é exemplo de perseverança e

resistência na cena underground. A banda já dividiu o palco com bandas como

Destruction (ALE), Annihilator (CAN), Incantation (EUA), dentre outras. Trabalhos

como os EPs Primitive Behavior, Trivial Chaos e o álbum Tanatron merecem ser

conhecidos e apreciados. No Maranhão há excelentes bandas autorais de rock e metal

que precisam de espaço para tornarem-se conhecidas do grande público.


Outra banda maranhense a se apresentar no domingo (13) foi a banda de thrash

metal Scrok, divulgando seu novo EP Crushing Laws. Músicas como a faixa título

Crushing Laws, assim como as canções Devastation, Bruder, Race, dentre outras

animaram o público.


Rebaelliun fez um show fantástico, que com seu setlist demonstrou porque é

considerada uma das mais importantes bandas de metal extremo, reconhecida

mundialmente. Com a perda de dois de seus integrantes Penna (2018) e Lohy (2022),

coube a Sandro ressignificar tudo que construíram ao longo dessas duas décadas em

combustível para continuar a fazer o que acredita, metal extremo de boa qualidade.


A irreverência da banda carioca Gangrena Gasosa provou com sua performance

que o mosh não tem fim. Conhecida por misturar thrash metal e croossover com

elementos de umbanda e religiões afro-brasileiras, a banda fez um show histórico que

levantou o público do início ao fim. Todos pediam mais, de tão bom que estava o show

e a energia trocada entre banda e público.


A banda Shaman apresentou um show histórico que além de tocar músicas que

foram imortalizadas na voz do nosso querido André Matos, também apresentou músicas

de seu novo álbum, Rescue, com Alírio Neto assumindo o vocal. O show foi marcado

por momento de muita emoção pelos fãs e homenagem ao parceiro de banda e amigo

André Matos, que não está mais entre nós.


O último show do Dorsal Atlântica em São Luís foi em 1997. Tanto a banda

quanto o público estavam ansiosos para esse reencontro. A banda liderada por Carlos

Lopes tocou os grandes sucessos e fez discursos emocionados por estar de volta a

cidade tocando num grande festival para fãs de sua banda que receberam a banda

calorosamente.


O show do ex-baterista e compositor de uma das bandas mais importantes do

punk mundial, Ramones, começou o seu show como de costume tocando bateria e

relembrando momento histórico de sua trajetória. Em seguida, em frente aos vocais,

Richie Ramone tocou vários sucessos da banda Ramones além de músicas de sua

carreira solo, além de uma excelente versão da música Enjoy the Silence, da banda

Depeche Mode.


A banda revelação dos suecos Ambush encerrou o festival apresentando o

clássico heavy metal, nos transportando para um tempo distante de músicas bem

executadas com performances ensaiadas, que além de hipnotizar o público com suas

músicas nos relembra que para fazer um bom show não é preciso de muitos efeitos, a

música e a performance da banda são o próprio espetáculo. Todos cantaram juntos o

sucesso Hellbiter, Infidel, ...


O festival teve pontos positivos e negativos como todo e qualquer evento, mas é

preciso sermos justos, os pontos positivos prevaleceram e fortaleceram o que estava

totalmente desacreditado. Assim como na música da banda Crypta, podemos dizer que o

'MOA renasceu como fênix’' e provou para todos que mesmo sem apoio e incentivo, mas

com muita luta e resistência é possível realizar um festival de grande porte em um

estado como Maranhão.

Agora, imaginem se as iniciativas públicas e privadas tivessem visão e investissem no festival?


Temos aqui um evento que além de fomentar a cena de rock no Maranhão, fortalece a cultura local e expande o turismo, além de trazer público dos estados vizinhos do norte e nordeste e tornar o Maranhão Open Air um dos mais importantes festivais de música pesada do País.

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