Texto: Guilherme Gões
Fotos: Belmilson Santos - @bel.santosfotografia
Menos de um mês após sediar a marcante apresentação do Machine Head, a Tokio Marine Hall novamente foi palco de um espetáculo de metal extremo. Na última quinta-feira (9), o clube sediou a apresentação da banda sueca In Flames, que segue em turnê pela América Latina exibindo nova formação e seu mais recente álbum, "Foregone", lançado no início deste ano. Formada na cidade de Gotemburgo em 1990, o conjunto começou no death metal tradicional, alinhado com o cenário da música extrema da época. Contudo, à medida que a maturidade musical dos integrantes foi avançando, o grupo começou a incorporar elementos melódicos em sua sonoridade, resultando em uma proposta única. In Flames é reconhecida como uma das precursoras do movimento "Death Metal Melódico", conquistando uma admirável posição no universo do metal. Sua influência estende-se como referência direta para diversos nomes que emergiram ao longo das décadas de 2000 e 2010.
Mesmo sob o escaldante calor que assolava São Paulo e com o evento desdobrando-se em pleno dia útil, a celebração testemunhou uma animada movimentação ainda nas primeiras horas. Durante a abertura da casa, que aconteceu por volta das 19h40, foi interessante observar o perfil do público, que, em sua maioria, ostentava camisetas de bandas do cenário metalcore da década de 2000, como As I Lay Dying, I Killed The Prom Queen, Lamb Of God, entre outras, evidenciando que a importância do In Flames para o heavy metal contemporâneo.
A banda escolhida para a abertura foi a Kryour, um novo nome que vem recebendo cada vez mais atenção no cenário musical paulistano, notável pela presença do influenciador digital Matheus Carrilho como baterista, conhecido por compartilhar vídeos dedicados à cultura do heavy metal no Tik Tok. Apresentando um setlist baseado no álbum "Where Treasures Are Nothing", o quarteto entregou uma performance marcante, explorando diversos estilos que incluem thrash metal, groove metal e death metal melódico, além de bases eletrônicas pré-gravadas em suas composições, resultando em uma sonoridade que ecoa como uma interpretação moderna dos primeiros anos de carreira do Trivium.
Após uma breve pausa para o público pegar uma cerveja, bater um papo com amigos e conferir a barraca de merchandising, o backdrop ao fundo do palco foi substituído pela arte da capa de "Foregone". Com um atraso de sete minutos em relação ao horário oficial, a intro acústica de "The Beginning Of All Things That Will End" começou a ressoar pelos alto-falantes. Em seguida, Björn Gelotte (guitarra), Anders Fridén (vocal), Tanner Wayne (bateria), Chris Broderick (guitarra) e Liam Wilson (baixo) surgiram no cenário, iniciando o set com "The Great Deceiver", presente no último lançamento.
A música apresenta uma estrutura robusta, complementada por um marcante riff melódico, combinando muito bem para abertura. Em uma alternância animada, Anders anunciou "Pinball Map", um clássico do álbum "Clayman", provocando um enorme circle pit, com a plateia moshando como se não tivesse compromissos no dia seguinte.
Transportando os seguidores de volta aos meados dos anos 2010, "Everything's Gone" desdobrou-se em riffs e batidas repetitivas, surpreendentemente mantendo o moshpit em plena efervescência. Observando a reação entusiástica dos fãs, Andreas comentou, "Gostaria de levar todos os presentes em um navio para a Europa, para que o público de lá tivesse a chance de aprender como se faz um bom show". Em seguida, "Ordinary Story" apresentou riffs extremamente melódicos, representando com maestria o que havia de mais moderno no heavy metal durante o final da década de 1990. Por sua vez, "Deliver Us" incorporou bases eletrônicas, exibindo mais uma vez a natureza pioneira do conjunto. Ao término da música de "Sounds Of A Playground", veio um dos momentos mais emblemáticos da noite, com Andreas anunciando que a próxima sequência iria contar com três faixas dos três primeiros álbuns da banda. "Behind Space" (Lunar Strain) mergulhou em blasts beats, gritos guturais e riffs oitavados, ressoando de maneira totalmente alinhada ao death metal raiz. Logo em seguida, "Graveland" (The Jester Race) trouxe uma base de thrash metal, mas já revelando variações nos vocais. Por fim, "The Hive" (Whoracle) destacou guitarras e vocais melódicos, elementos que se tornaram a característica principal do conjunto. Sem dúvidas, foi gratificante acompanhar a notável evolução musical do In Flames ao longo deste bloco. Continuando, a plateia foi presenteada com uma sequência imbatível, apresentando duas de suas músicas mais renomadas: "Cloud Connected" e "Only For The Weak". Em seguida, o quinteto mandou mais duas composições recentes - "Foregone Pt.1", uma inovadora mistura de berros guturais com batidas eletrônicas, e "State of Slow Decay", que mergulha na velocidade do thrash metal. Para encerrar com chave de ouro, o frontman convocou o maior circle pit da noite para "The Mirror's Truth" e foi prontamente atendido com duas rodas gigantescas em ambas as pistas. Após a cena memorável, o público ainda reuniu forças para manter a energia pulsante em "I Am Above" e "Take This Life". Em plena quinta-feira, o público lotou uma das principais casas de São Paulo, entregando-se a mais de uma hora e meia de pura intensidade sonora proporcionada por um grupo que sempre navegou fora dos holofotes midiáticos convencionais. Sem dúvidas, o evento foi um poderoso indicativo da resiliência e força do heavy metal no Brasil. Já os suecos proporcionaram uma performance feroz e inovadora, incorporando uma variedade impressionante de influências distintas. Certamente, foi um espetáculo memorável e destinado a permanecer gravado na memória por anos a fio.
Setlist The Great Deceiver Pinball Map Everything's Gone Ordinary Story Deliver Us Behind Space Graveland The Hive Cloud Connected Only for the Weak The Quiet Place Foregone Pt. 1 State of Slow Decay Alias The Mirror's Truth I Am Above Take This Life
Comments