Machine Head surpreende com o ótimo “Unatøned”
- Maria Correia
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Desde “The Blackening” (2007), considerado por muitos o ápice criativo do Machine Head no século XXI, a banda liderada por Robb Flynn tem apostado em composições longas, com estruturas labirínticas e atmosferas carregadas. Álbuns como “Unto the Locust” (2011) e “Catharsis” (2018) seguiram essa linha, investindo em épicos pesados e densos, muitas vezes exigindo do ouvinte um mergulho completo — quase uma experiência imersiva. Para muitos, discos muito longos causam aversão.
Com “Unatøned”, entretanto, a banda toma um caminho diferente, priorizando a objetividade sem sacrificar a intensidade. Com pouco mais de 40 minutos de duração, este é o álbum mais curto da discografia do grupo, e também um dos mais acessíveis em termos de fluidez. As faixas raramente ultrapassam os quatro minutos, e isso contribui para uma audição mais direta, quase urgente — algo que contrasta com a grandiosidade dos trabalhos anteriores. Apenas uma música chega aos cinco minutos de duração, “Bleeding Me Dry”, enquanto “Dustmasker” mal passa dos dois minutos. Uma mudança e tanto.
A proposta não significa simplicidade. O Machine Head continua se apoiando numa sonoridade multifacetada, que passeia com naturalidade entre o Groove Metal, o Death Metal e até ecos discretos de pop e música eletrônica, seja na produção ou na construção melódica de refrães. Essa pluralidade estilística sempre esteve presente, mas nem sempre foi bem recebida. Desde o aclamado “Burn My Eyes” (1994), a banda nunca foi unanimidade. E episódios como o lançamento de “The Burning Red” (1999), marcado por uma sonoridade mais moderna e flertes com o nu metal, deixaram evidente que agradar a todos nunca foi o objetivo — e talvez nunca será. Não por acaso, este foi o disco mais escrachado pela crítica, mas se ouvido com atenção hoje, é um ótimo álbum.
Em “Unatøned”, essa identidade plural se manifesta de maneira mais coesa. A abertura instrumental “Landscape of Thorns” prepara o terreno para uma sequência agressiva com “Atomic Revelations” e “Unbound”, onde os riffs cortantes e os vocais cheios de fúria encontram espaço para melodias que grudam na cabeça. O começo veloz de “These Scars Won't Define Us” pode enganar o ouvinte pensando que a música inteira será assim, mas, como é típico da banda, tudo pode mudar de um minuto para outro, seguindo um caminho mesclado entre a velocidade e trechos mais quebrados, com ótimos solos de guitarra. A já citada “Dustmasker” também engana. Seus dois minutos se traduzem em uma faixa quase instrumental, num clima mais atmosférico, com apenas algumas falas reflexivas e poéticas, abrindo caminho para “Bonescraper”, que traz um peso absurdo e vocais limpos praticamente pop com um coro interessante e grudento.
Faixas como “Bonescraper” e “Addicted to Pain” seguem o mesmo caminho, transitando entre peso, melodias e bons arranjos. Já “Scorn”, com seu arranjo centrado no piano, mostra uma faceta melancólica e funciona como ponto final agridoce para o álbum. É difícil descrever a música, mas ela evoca uma atmosfera intensamente “urbana” e visual — como se o ouvinte fosse transportado para uma cena de filme ambientada em Nova Iorque dos anos 1990, sombria e melancólica. É quase cinematográfica, revelando uma faceta introspectiva e inesperada do álbum, que amplia ainda mais seu escopo sonoro e emocional.
Mesmo com a estreia de novos integrantes — Reece Scruggs na guitarra e Matt Alston na bateria —, o Machine Head soa coeso, como se essa formação já estivesse entrosada há anos. Com produção assinada pelo próprio Robb Flynn ao lado de Zack Ohren, e mixagem de veteranos como Colin Richardson, o álbum soa moderno sem abdicar da sujeira que caracteriza o som do grupo. A arte de capa, assinada por Seth Siro Anton, coroa a estética sombria e perturbadora que permeia o material.
“Unatøned” pode não ter a ambição épica de “The Blackening”, nem a controversa ousadia de “The Burning Red”, talvez até seja uma junção de tudo o que a banda já fez aqui, mas encontra seu valor na concisão e na clareza de propósito. É o Machine Head trilhando seu caminho após mais de 30 anos e mostrando que pode evoluir sem perder sua essência — aquela mesma que, desde os anos 1990, divide opiniões, mas nunca passa despercebida.
Track list do álbum:
1. Landscape of Thorns
2. Atomic Revelations
3. Unbound
4. Outsider
5. Not Long for This World
6. These Scars Won't Define Us
7. Dustmaker
8. Bonescraper
9. Addicted to Pain
10. Bleeding Me Dry
11. Shards of Shattered Dreams
12. Scorn
Assista ao vídeo de “Øutsider”: