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  • Foto do escritorMaria Correia

Riverside encanta, conscientiza e entretém público em show diferenciado no Carioca Club, em São Paulo


Texto: Tiago Pereira

Fotos: Eliane Randi - @eliane.randi.fotografia

A banda polonesa de Rock Progressivo Riverside se apresentou na última quarta-feira (03), no Carioca Club, na Zona Oeste de São Paulo, após dois anos de sua última apresentação na mesma cidade e local. Desta vez, o grupo veio em meio à turnê de seu mais recente disco, intitulado “ID.Entity”, lançado em janeiro de 2023, no qual a banda apresentou seis das sete faixas do LP em um setlist de 12 faixas, numa apresentação de pouco mais de duas horas.


A percepção de que a casa de shows não lotaria naquele dia já era sentida às 20h, 30 minutos da apresentação, quando se via pouco menos de dois terços da pista ocupados e, ainda assim com espaços para transitar. O local lotou mais um pouco perto do horário do show, inclusive com o mezanino mais cheio que minutos antes. Nas mãos dos fãs e curiosos – muitos deles, inclusive, viram a banda pela primeira vez ao vivo – os copos de cerveja e outras bebidas predominavam, mesmo em uma noite de meio de semana. Ao fundo, músicas que alternavam entre rock clássico e nuances de jazz e, na pista, uma grade que dava um espaço considerável para fotógrafos.


Azar de quem não compareceu, uma vez que a qualidade sonora do quarteto de Varsóvia não deixou nada a desejar ao longo da apresentação, assim como as interações da banda com o público, principalmente do frontman e baixista Mariusz Duda, foram muito diferentes do que é comum em muitas apresentações musicais, principalmente na reta final do show em questão.


Às 20h30, o público deu seu primeiro pico de ânimo, com o apagar das luzes do palco. Na sequência, entraram Piotr Kozieradzki (bateria), Michał Łapaj (teclado e backing vocal), Maciej Meller (guitarra) e Mariusz Duda (vocal e contrabaixo). O último, inclusive, soltou um sonoro “Boa Noite, São Paulo”, em língua portuguesa.


O Riverside abriu com faixas de produções anteriores à última, começando por “#Addicted”, do álbum “Love, Fear and Time Machine” (2015). Logo de cara, deu para sentir o potencial que o contrabaixo de Mariusz Duda, devido ao forte grave causado logo no riff tocado pelo frontman. A faixa tem um ritmo dançante e, em sua letra, esbanja uma crítica ao vício em redes sociais. O público começou tímido, mas compensou com ovações ao final da faixa, principalmente após o solo de guitarra de Maciej Meller.



E os fãs, já aquecidos, ajudaram a ritmar palmas e cantar os refrões durante a segunda faixa da noite, “02 Panic Room”, do álbum “Rapid Eye Movement” (2007). Em uma das encenações e interações diferenciais da banda, houve um momento em que os quatro ficaram por, pelo menos, 30 segundos em estátua, sob a iluminação de luz branca para cada membro, o que trouxe ainda mais animosidade aos presentes, principalmente em forma de aplausos e gritos.


Mariusz fez questão de relembrar a última passagem da banda, em 2022. Antes disso, ouviu, junto à banda, o sonoro cântico “Olê, olê, olê olê! River...side!” ecoar do miolo da pista para toda a casa de shows. Em seguida, ainda relembrou do lançamento de “ID. Entity”, em 2023 e reafirmou a admiração pela cidade de São Paulo e pelos fãs, no qual denominou como “fantásticos”.


O frontman do Riverside apresentou os membros pela primeira vez na noite e prosseguiu o show com a faixa “Landmine Blast”, a primeira faixa do último disco tocada naquela noite. O riff de contrabaixo foi destaque novamente, devido a sonoridade diferenciada e que combinou com as linhas de guitarra que vieram na sequência da faixa. Foi a primeira vez, também, que Mariusz e Maciej interagiram enquanto tocavam uma faixa, posando um de costas para o outro, mas com baixo e guitarra visíveis ao público. Ainda houve uma pequena Jam, onde foi a vez de Michał Łapaj se destacar com uma com notas que, com a configuração de seu sintetizador, lembraram as músicas de versões antigas dos jogos de Sonic. E foi o mesmo que puxou Mariusz em danças corporais mais animadas e sincronizadas.


Em seguida, a banda partiu para “Big Tech Brother”, com Mariusz reproduzindo a narração introdutória da faixa: “Hello listener! / If you want to hear to next song / You must first agree to terms and conditions / It won't hurt / Well, at least not now / Maybe later / Thank you for your cooperation” – “Olá, ouvinte! Se você quer ouvir a próxima música, você deve aceitar os termos e condições! Não vai doer. Bom, pelo menos não agora, talvez mais tarde. Obrigado pela sua cooperação!”, em tradução livre. Eis uma nova música com críticas a questões digitais e que alerta que “nada é de graça” e que somos rastreados, analisados, minados e modificados ao aceitar termos e condições referentes a sites e demais plataformas digitais. O peso musical, na reta final, fez até mesmo Michał Łapaj sair de seu posto para fazer um air guitar com o público, ainda no palco.


Na segunda pausa – esta um pouco mais extensa – Mariusz discursou a respeito da nova fase da banda e do álbum anterior, explicando que inseriram a própria identidade da banda, além de abordar a identidade da sociedade moderna nas faixas. Junto a isso, reforçou que aquela era a identidade do Riverside dos últimos dois anos. O frontman emendou com a questão das comparações, relembrando e afirmando que o Riverside é uma banda de Rock Progressivo, e não de Metal Progressivo, pedindo assim para que não os comparem com o Dream Theater, mesmo que soe parecido em alguns momentos. Por fim, Mariusz também falou sobre o intuito da banda de conversar com o público, seja pela forma como fazia naquele momento, seja pelas letras das músicas.


Logo em seguida, o quarteto voltou à era “Love, Fear and the Time Machine” ao tocar a faixa de abertura deste álbum, intitulada “Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?)”. Houve aplausos no ritmo da faixa, em alguns momentos, além da mistura do coro e do canto do refrão, cantados por parcelas dos fãs presentes.


O frotnman do Riverside elogiou a plateia novamente, além de afirmar que o público é “o quinto membro do Riverside nos shows”. Depois disso e de ver quantas pessoas levantaram a mão afirmando ser a primeira vez que viam a banda ao vivo, o grupo tocou “Left Out”, uma das faixas do álbum “Anno Domini High Definition” (2009). Depois de quase cinco minutos da parte lenta da música, os presentes no Carioca Club acompanharam a parte agitada com um canto cada vez mais alto e com dinâmicas conhecidas em shows, como cantos em forma de coro, além de palmas rítmicas em determinados momentos da faixa e uma forte finalização de Heys no final. Os mais entusiasmados prosseguiram o coro e puxaram novamente o “Olê, olê”, impressionando assim a banda.


Na sequência, a faixa “Post-Truth” trouxe um peso a mais para o show, principalmente pelas linhas de Mariusz e Maciej, nos instrumentos de corda. Já em “The Place Where I Belong”, a iluminação nas cores vermelho, verde, amarelo e azul trouxe um tom diferenciado à introdução do tecladista Michał Łapaj e ao ritmo lento inicial e, além disso, a virada para uma cadência mais agitada trouxe o público junto, por meio das palmas. Na finalização, desta faixa, novamente em um ritmo lento, alguém que estava próximo ao bar e, muito provavelmente, alterado (a), começou a gritar muito, questionando o porquê de não terem continuado as palmas. Muitos olharam para trás, mas ignoraram de imediato.


“Egoist Hedonist” foi mais uma das faixas clássicas da banda tocadas na noite. As luzes em forma de estrelas de 12 pontas, o riff calmo e o coro tímido dos fãs, no início, deram a calmaria à faixa que, logo em seguida, se tornou mais agitada. As influências de jazz fusion presentes na versão de estúdio desta música não foram tão exploradas no show, mas nada que tenha tirado o potencial dela ao longo de seu desenvolvimento. Junto a todo o potencial dançante da faixa e das linhas de destaque de cada integrante, o público era conduzido por Mariusz a puxar coros cantados em diversos momentos, com sucesso.

Bastou um simples “obrigado” do frontman para o público ir ao delírio dos aplausos novamente. Durante o encore, mais palmas e gritos de “Riverside” por parte de um público mais eufórico.


Um minuto depois, todos voltam aos seus postos e, em meio a luzes vermelhas, eles tocam um pequeno medley que misturou as faixas “Self-Aware”, do álbum “ID.Entity”, e “Driven to Destruction”, de “Anno Domini High Definition”. Na primeira parte, uma faixa contagiante e com riff muito bem destacado, que deixou pessoas da grade ao fundo com a vontade iminente de dançar e pular – alguns arriscaram e bem as duas situações –; na segunda, mais um riff poderoso de Mariusz que, junto à banda, cadenciam um misto de momentos dançantes, lentos e de peso musical.



O vocalista e baixista do Riverside anunciou a última faixa, reforçando os agradecimentos e afirmando que aquela foi uma linda noite. Após uma nova apresentação dos membros, Mariusz prometeu que a banda voltaria em breve para São Paulo, para um novo show. Eis que tocam a clássica “Concieving You”, do álbum “Second Life Syndrome” (2005). Um encerramento calmo, com Mariusz e Maciej frente a frente em determinado momento, mas que contou com uma das interações mais diferenciadas que já vi em uma apresentação ao vivo.


Em certo momento da faixa, Mariusz Duda se ajoelhou no palco, colocou o capuz de sua blusa e começou a fazer movimentos sutis com as mãos. Ao ficar de pé, pediu ao público para que “gritassem silenciosamente” após a contagem de um a quatro. Ao conseguir o “cochicho coletivo” da plateia, fez questão de brincar, ainda em voz baixíssima – como um ASMR -, dizendo que aquilo foi “Rock and Roll”. Isso tirou risos dos fãs, assim como o pedido de “palmas silenciosas” para suceder mais um cochicho, na sequência. Por fim, Mariusz já não segurava mais o riso, assim como a plateia, mas seguiu com a atuação para pedir, agora sim, um grito visceral do público presente. O desejo atendido foi o estopim para um “breakdown” poderoso, somado a um guitarrista e baixista que trocaram de mãos e tocaram um o instrumento musical do outro. Isso fechou a faixa e o show com maestria, mas ainda faltava uma boa despedida.


Os aplausos e “olês” dos presentes no Carioca Club deram o tom do quão espetacular, sonora e esteticamente, foi o show. Após a foto de fim de apresentação, os membros se alinharam no palco para o ato final: o tocar da música “Riverside” do DJ holandês Sidney Samson, cujo breakdown tem os dizeres “Riverside, Motherfucker!”. E foi nisso que eles exploraram um último momento agitado com os fãs, pulando em pleno palco e vendo o dançar de alguns da grade.


Foram duas horas que passaram rápido, independentemente do tempo de cada faixa. A percepção foi de que ainda teria mais músicas, de tão imersiva – musicalmente e na interação da banda com seu público – que a apresentação foi. Fora isso, para quem viu a banda ao vivo pela primeira vez, o misto de musicalidade, mensagens impactantes – principalmente das faixas do último álbum –, a seriedade e as brincadeiras em momentos certeiros podem ter dado a noção de um show único ou diferenciado, em comparação ao que muitas bandas fazem ou comentam em pleno palco. Será muito bom se o Riverside voltar em breve para o Brasil, pois isso dará oportunidade para mais pessoas sentirem essa tonalidade diferente de um show de rock.



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