Texto: Guilherme Góes
Fotos: André Santos - @andresantos_mnp
Realização: Dark Dimensions - @darkdimensionsbrazil
Press: JZ Press - @jzpressassessoria
Certamente, 2022 foi inesquecível para os headbangers paulistanos. Após a pandemia de COVID-19 que simplesmente paralisou o setor de eventos culturais por 20 meses, apresentações ao vivo retornaram com força a partir de março, e os clubes da maior metrópole do país sediaram shows de grupos internacionais todos os finais de semana ao longo do ano. Além disso, festivais em estádios de futebol e sambódromos com nomes populares da cena como Metallica, Iron Maiden e Slipknot demonstraram a força do movimento no Brasil.
Para encerrar o ano com chave de ouro, a banda alemã de Prog Metal The Ocean Collective se apresentou no Carioca Club, na última quarta-feira (28), assim finalizando as "atividades musicais" aos "45 do segundo tempo" para o Réveillon. Na programação original, Labirinto estava escalado para realizar a abertura do evento, mas a participação do grupo mineiro de Post Black Metal foi cancelada devido a problemas de força maior.
The Ocean Collective (também conhecido apenas como "The Ocean") foi fundado em 2000 pelo guitarrista e compositor Robin Staps. Durante os primeiros anos, o grupo encontrou dificuldades em manter um line up fixo, assim realizando sua primeira apresentação ao vivo apenas em 2002. Logo em seguida, as coisas começaram a caminhar com certa normalidade, e ainda em 2003, a banda assinou contrato com a Make My Day Records, que lançou seu primeiro álbum "Fogdiver". Já em 2005, veio a oferta de participar do casting da Metal Blade, e a distribuição do álbum "Aeolian" contou com a ajuda do popular selo. Porém, o reconhecimento global na cena Heavy Metal começou após a entrada do vocalista Loïc Rossetti, que encabeçou os trabalhos mais icônicos do conjunto alemão, como "Heliocentric" (2010), "Anthropocentric (2010)" e os belíssimos "Phanerozoic I: Palaeozoic (2018)" e "Phanerozoic II: Mesozoic / Cenozoic (2020)".
Durante a chegada no evento, foi possível perceber que a data relativamente "incomum" para a realização de um evento de rock afastou os fãs, já que apenas profissionais de veículos de comunicação e uma parcela reduzida do público que sequer chegava a 15 pessoas entrou na casa de espetáculos no horário de abertura oficial, às 19h. Infelizmente, a situação seguiu da mesma forma ao longo da noite, e o Carioca Club sequer chegou a um terço de sua lotação máxima. No entanto, a ausência de público gerou uma espécie de "clima aconchegante", e os poucos presentes puderam curtir a discotecagem que passou por músicas electro experimentais a clássicos do indie rock como "Where Is My Mind" (Pixies) e "Say It Ain't So" (Weezer), conferir com maior tranquilidade as TVS de LED que exibiam efeitos especiais decorados com artes do The Ocean Collective nos telões de LED do espaço, além de um estande de merch que destacava camisetas e correntes voltadas ao públicos metal/gótico.
Perto das 21h, movimentos foram observados no palco, e o público começou a clamar um divertido grito de guerra improvisado com "Olê, Olê, Olá, Oceano, Oceano", expondo altas expectativas para o set do conjunto alemão. Após uma breve introdução solo com o tecladista Peter Voigtmann, Robin Staps (guitarra), Loïc Rossetti (vocais), Mattias Hägerstrand (baixo) e David Ramis Ahfeldt (guitarra) subiram ao palco sob forte iluminação vermelha e mandaram "Triassic", faixa que abre o álbum "Phanerozoic II: Mesozoic | Cenozoic". Quando a base instrumental tomou conta da música, Peter foi em direção ao público na beira do palco e estimulou a plateia, sendo atendido com o público tentando "simular" as notas do solo de guitarra.
Na sequência, luzes amarelas dominaram o cenário para acompanhar "Silurian: Age of Sea Scorpions", do "Phanerozoic I: Palaeozoic". Nesta ocasião, a conexão do frontman com o público se sobressaiu: além de pedir palmas em frente ao palco, Peter se jogou na galera, foi segurado pelos fãs e ainda deixou um entusiasta cantar em seu microfone.
Apesar da ausência massiva de público, a performance funcionou muito bem. Com a ausência do vocalista do palco, Robin, Mattias e David assumiram o protagonismo no palco executando uma espécie de dança sincronizada com seus instrumentos. Em "Bathyalpelagic I: Impasses", a loucura continuou: Peter tomou o celular de alguém da plateia e seguiu filmando a apresentação. Já "Bathyalpelagic II: The Wish in Dreams" gerou o momento mais lindo da noite: durante a execução da música, a banda solicitou que os roadies levassem um fã cadeirante presente na pista ao palco.
Desde o término da segunda faixa do set, luzes azuis haviam dominado a decoração do cenário. No entanto, para seguir "Miocene | Pliocene", canhões enverdeados enfeitaram a incrível canção que conta com um belíssimo solo de contrabaixo e que expõe a técnica exclusiva de Peter em vocais guturais em sua totalidade. Além de ser um músico exímio, o rapaz é um mestre na arte de proporcionar momentos memoráveis aos seus seguidores. Durante "Oligocene", o dono da festa foi ao público novamente para cantar a faixa com seus admiradores. Diferentemente da grande maioria das apresentações de bandas de Prog Metal, onde o público apenas assiste o show com atenção total e banda mal interage com os fãs, o set do The Ocean foi marcado por uma extraordinária conexão "plateia/artistas". Assim sendo, é possível afirmar que o grupo quebra todos os padrões de seu segmento musical e ainda fornece uma experiência inovadora. Tal entrosamento foi exposto ao máximo em "Jurassic | Cretaceous", última faixa do set, que contou com os fãs cantando a plenos pulmões o maior "hit" de "Phanerozoic II". Depois de um breve bis, a banda agradeceu a presença do público e surpreendeu a todos com "Firmament" - única canção do disco "Heliocentric" presente no repertório.
Além da espetacular presença de palco e fantástica interação com público, o conjunto alemão entregou uma verdadeira aula de perfeccionismo instrumental.Igualmente, o jogo de iluminação utilizado durante a apresentação foi extremamente preciso, e enriqueceu a experiência geral. Sem dúvidas, The Ocean Collective destrói paradigmas dentro de seu próprio cenário.
Galeria:
Comments