Skeletá” é Ghost para além do amor ou ódio — é obra para ouvir no repeat
- Maicon Leite
- há 2 horas
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Cercado de muita expectativa, o novo álbum do Ghost, “Skeletá”, surpreende de várias maneiras. Embora seja difícil separar o lado fã do crítico musical, este é um álbum que não conquista logo na primeira audição, tanto é que, ao contrário de diversas mídias que publicaram suas resenhas logo em seu lançamento, decidi ouvir o disco mais vezes para emitir uma opinião mais concisa sobre o trabalho. Desta forma, acabei descobrindo nuances diferentes, arranjos escondidos e uma inspiração inegável de Tobias Forge, que não tem poupado esforços para elevar o nome do Ghost ao redor do mundo. E assim, mais uma vez, ele atrai toda a nossa atenção.
O fato é que “Skeletá”, a cada nova audição, se revela um álbum gostoso de ouvir, e que, ao contrário de “Prequelle” (2018) e “Impera” (2022), traz um número menor de músicas medianas. Na minha opinião, ao menos metade das composições de cada um destes discos está muito abaixo da média do que a banda é capaz. Não que as músicas sejam ruins, mas muitas parecem carecer de impacto. Mas, gosto é gosto. E Ghost é Ghost, ou ame ou odeie.
As dez faixas de “Skeletá” trazem aquela sonoridade mais Hard Rock com toques Pop que Tobias Forge vem compondo com mais ênfase desde “Prequelle”. Há momentos em que aquela aura misteriosa que permeava “Opus Eponymous” (2010) e “Infestissumam” (2013) toma forma, como em “Satanized”, primeiro single a ser disponibilizado para o público. A música lembra inclusive o clima da época do EP de covers “If You Have Ghost”, (2013), com linhas de guitarra maravilhosas, esbanjando melodias marcantes.
A abertura com o coral em “Peacefield” nos faz pensar que estamos de volta a década de 1980, com todas aquelas bandas de Pop e Hard Rock invadindo as rádios. Não é nenhum segredo que as influências de Tobias Forge vão de Depeche Mode até Sarcófago, sem distinção. Seu senso melódico é capaz de criar músicas perfeitas para cantar em estádios. Dentro desta gama de influências sai o som característico do Ghost. A segunda faixa, “Lachryma”, tem um arranjo inicial que lembra trilhas sonoras de filmes de terror, seguida de um riff de guitarra cortante com a cozinha soando pesada e sólida. É uma música grudenta!
A já citada “Satanized” talvez seja a melhor do disco, podendo ser comparada diretamente com a fase “Infestissumam”, com uma pegada clássica do Ghost, perfeita para os shows, com riffs marcantes e um solo inspirado, amparado por teclados brilhantes. A balada “Guiding Lights” segue uma linha mais Pop, enquanto “De Profundis Borealis” engana em seu começo, com arranjos tipicamente “Pop anos 80”, para em seguida emendar com mais riffs cavalgados e numa velocidade incomum para a banda. É uma música espetacular, com arranjos melódicos de guitarra que fazem o ouvinte colocar a música do repeat por diversas vezes.
Assista ao vídeo de “Satanized”:
“Cenotaph” é outra faixa que não deixa o ouvinte respirar. Arranjos melódicos + riffs cortantes/cavalgados de novo? Temos! Soa tudo absurdamente bem, na medida certa, evocando um clima 100% década de 80, com guitarras e teclados inspirados. “Missilia Amori” lembra bastante os alemães do Scorpions e se mantém um ritmo mais compassado, com uma profusão de riffs e solos. “Marks of the Evil One” mantém a mesma pegada, ao passo que “Umbra” nos presenteia com uma introdução de quase 1 minuto de teclados nostálgicos (dá-lhe anos 80!), e na sequência, cowbell! Sim, se você lembrou do Blue Öyster Cult, esta é a música perfeita. Aliás, o B.Ö.C. é certamente uma das maiores influências de Tobias Forge, disso não há dúvidas. “Mais cowbell, please!”. Lá pelo final da música, há um duelo entre guitarras e teclado que ao vivo deve se tornar um dos pontos altos do show. É o tipo de momento que só Tobias Forge poderia conceber.
Por fim, a melancólica “Excelsis”, com Papa V Perpetua nos dando um show de interpretação. A letra, que diz “Todo mundo parte um dia / Eu sei que dói / Todo mundo vai embora / Você vai também, eu também vou”, é, se formos pensar, muito triste. Todos vamos morrer algum dia. No final das contas, a música funciona como um encerramento emocional do álbum, abordando a morte não como fim trágico, mas como transição — um "fim da avenida" que leva a algo maior, ainda que desconhecido e amedrontador. Filosófico, não? Uma bela maneira de encerrar este que é um dos melhores lançamentos do ano e quem sabe do Ghost.
Confira o álbum do Spotify:
Track list do álbum:
1. Peacefield
2. Lachryma
3. Satanized
4. Guiding Lights
5. De Profundis Borealis
6. Cenotaph
7. Missilia Amori
8. Marks of the Evil One
9. Umbra
10. Excelsis
